Gaúcho da pequena cidade de Santiago de Boqueirão, Caio Fernando Abreu, foi jornalista, escritor, dramaturgo, ator de algumas peças e, ousaria dizer, que uma Clarice Lispector de calças, tamanha a dor que saem de suas frases.
Muitos o conhecem por causa das frases que o Facebook nos dá o prazer de ler. Para saber mais e se tornar mais íntimo do escritor, a obra Caio Fernando Abreu ― Inventário de um escritor irremediável, da jornalista Jeanne Callegari, é uma ótima alternativa. Mas, melhor do que ler sobre ele, é ler os livros de Caio. Alguns exemplos da sua bibliografia: Onde andará Dulce Veiga?, Teatro Completo (com todas as peças que escreveu), Limite branco (seu primeiro romance), Triângulo das Águas, Os dragões não conhecem o paraíso. Com estes últimos, venceu dois prêmios Jabuti, em 1984 e 1989, respectivamente.
Também conhecido pelo temperamento agressivo, à vezes, introspectivo em excesso, Caio podia passar dias trancado no quarto, incomunicável. Sua inquietude o levou a frequentar a cena underground, se tornou um viciado em drogas, HIV positivo, faleceu pelas consequências da doença aos 47 anos, em 1996. Talvez toda a urgência que existia dentro dele, sabe-se lá do que, o fizesse, mesmo com o sucesso (coisa rara, Caio vendia muito ainda vivo), nunca ter dinheiro, querer fazer tudo ao mesmo tempo, se entorpecer para esquecer suas dores, viver sem limites para provar que poderia ser imortal. Caio morava “de favor” ou dividia a casa com algum amigo. Esse desapego todo pode ser fruto de tanta genialidade, mas uma genialidade contraditória, ao meu ver.
Um trecho de Limite branco, talvez seja uma ponta da dor que ele sentia, dessa incompreensão toda que o tomava em seus momentos de solidão: "Eu gostaria de ir embora para uma cidade qualquer, bem longe daqui, onde ninguém me conhecesse, onde não me tratassem com consideração apenas por eu ser 'o filho de fulano' ou 'o neto de beltrano'. Onde eu pudesse experimentar por mim mesmo as minhas asas para descobrir, enfim, se elas são realmente fortes como imagino. E se não forem, mesmo que quebrassem no primeiro voo, mesmo que após um certo tempo eu voltasse derrotado, ferido, humilhado ― mesmo assim restaria o consolo de ter descoberto que valho o que sou".
Esse era apenas o primeiro livro e ele já queria ser anônimo... então, pq se envolver em tudo? É muita contradição nessa pessoa atormentada! Mas eu adoro cada frase, costumo dizer que Clarice sangra... acho que Caio é uma tortura, é um coração ficando pequeno na dor da partida.
“A pior coisa do mundo é quando alguém faz você se sentir especial e de repente te deixa de lado. E aí você tem que agir como se não se importasse”.
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